quinta-feira, 15 de março de 2012

Franji Synagogue, Syria

 
Sinagoga Ilfrange, Damasco, Síria


A sinagoga da foto acima é uma das que o ditador Bashar al-Assad reformou com dinheiro público, numa esperta jogada de marketing, como forma de chamar a atenção mundial para pontos turísticos de seus país e para a tolerância de seu governo e população. Uma pena que a comunidade judaica do país, uma das mais antigas do mundo - com mais de dois milênios -  já tenha sido praticamente extinta, graças a perseguições, massacres...
A bela sinagoga não tem freqüentadores ou serviços religiosos. Serve apenas como lembrança de uma história milenar apagada pelo pan-arabismo e pela tolerância islâmica.  

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Natural de Homs, cidade que virou o centro dos protestos contra o regime sírio, o cristão Shaher Meida explica em bom português por que apoia incondicionalmente o ditador Bashar Assad. “Com ele temos proteção”, diz ele, que morou um ano em Belo Horizonte. “Sem Assad, o risco é a Síria virar um novo Iraque”. O temor de Meida é uma das explicações por trás do apoio que as minorias do país devotam ao regime, ainda que muitos critiquem o Estado policial e anseiem por mais liberdade. Formado por cristãos, muçulmanos, alauítas e drusos, a Síria é um dos poucos países do Oriente Médio em que diferentes grupos religiosos e sectários 'coexistem'.
Mas essa aparente harmonia começou a sofrer rachaduras com os protestos iniciados em março, despertando fantasmas de uma guerra sectária. Esse risco é ressaltado pelo regime. A alternativa a Assad, adverte, é o caos. Real ou exagerado, o perigo colocou as minorias em pânico, sobretudo a cristã, que constitui 10% da população de 23 milhões. O temor é que grupos islâmicos cheguem ao poder e que se repitam as perseguições ocorridas no Egito e no Iraque ou um cenário de guerra civil, como no Líbano.

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Setenta e cinco anos atrás, um grupo de seis notáveis alauítas - grupo religioso do qual fazem parte o ditador Bashar el-Assad e a elite política da Síria - enviou uma carta aos franceses, na época em que eles e os britãnicos dividiam arbitrariamente o Oriente Médio, destruindo comunidades milenares para apaziguar os muçulmanos. Na carta eles explicavam o motivo de se recusarem a fazer parte da Síria muçulmana e dominada por sunitas [que os consideram infiéis]. Como exemplo, eles apontavam o tratamento dispensado aos judeus pelos muçulmanos na Palestina:

A situação dos judeus na Palestina é a mais forte e explícita evidência da militância islâmica em seu tratamento daqueles que não pertencem ao islã. Esses bons judeus contribuíram para os árabes com civilização e paz, e estabeleceram prosperidade na Palestina sem tomar nada a força e sem prejudicar a ninguém, ainda assim, os muçulmanos declaram guerra santa contra eles e nunca hesitaram em massacrar suas mulheres e crianças, apesar da presença da Inglaterra na Palestina e da França na Síria. 
Portanto, um destino sombrio aguarda os judeus e outras minorias no caso de o mandato britânico ser abolido e da Síria muçulmana e da Palestina muçulmana serem unidas... o objetivo final dos árabes muçulmanos.

Entre os signatários estava Suleiman (Sulayman) el-Assad, avô de Bashar el-Assad.


Syria's crackdown
The Lost Cause of Alawite Zionism   
Alawites: Don't do to us what Muslims did to Jews 
How Syria and Lebanon became emptied of Jews

domingo, 4 de março de 2012

Dawood Hosni (1870 – 1937)



Dawood Hosni, cujo nome hebraico era David Khadr Hayyim Halevi, nasceu em 1870 e foi criado no Cairo, Sanadekeya, no distrito de Gamalia.

Com suas composições ele superou seus antecessores e contemporâneos e elevou o padrão da música oriental a alturas nunca antes alcançadas.
Ele foi o primeiro compositor no Oriente Médio a compor uma ópera – Sansão e Dalila – em árabe. Sua apresentação no teatro foi considerada pelos críticos da época como "um evento único na história da música árabe".

Em 1906, ele recebeu o primeiro prêmio no Congresso Musical em Paris, pela composição de sua famosa canção أسير العشق. Já em 1932, durante a Convenção de Música realizada no Cairo, ele foi saudado como o construtor de uma “herança imortal na arte musical egípcia”.

Mas nem todas as distinções e sua importância no cenário cultural do país impediram Dawood de sofrer com o anti-semitismo egípcio. A seguinte conversa, entre ele e seu amigo Tal'at Harb, se deu quando falavam sobre a possibilidade de Hosni dirigir o teatro egípcio:

Tal'at: Você sabe, Dawood, o quanto eu queria que você fosse responsável pelo teatro, mas ya khusartak fi'l Yahud (é uma pena que sejas judeu).   

Hosni: Tal'at, eu nasci judeu, levo uma vida judaica e morrerei um judeu...

Mourad El Kodsi (Murad Al-Qudsi), Just for the Record-- In the History of the Karaite Jews of Egypt in Modern Times, Wilprint inc., 2002, p.218.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Grande Mesquita, Erdil, Iraque (Curdistão)


Os curdos são a maior nação sem pátria no mundo, com uma população de aprox. 20 milhões de pessoas que hoje vivem divididos no que eles próprios consideram o Curdistão – área que engloba partes da Turquia, Síria, Iraque e Irã. São na maioria muçulmanos, mas etnicamente diferentes dos árabes e com língua e cultura próprias.

Determinar seu número exato é impossí­vel. Os governos de seus respectivos paí­ses tendem a subestimar seu número, enquanto que seus movimentos nacionalistas o exageram. Exagerado também – e verdadeiro! – é o número de massacres e genocídios de que foram vítimas – a grande maioria pelas mãos de outros muçulmanos. Entre seus maiores algozes estão os árabes, persas e turcos. 

No Curdistão-Iraque da foto acima, a campanha de “arabização” empreendida por Saddam Hussein e seu primo Ali Hassan al-Majid, mais conhecido como “Ali, o químico” (por causa do uso de armas biológicas) causou a morte de mais de 180.000 curdos e a deportação de mais de 1.5 milhão.


Os curdos também são conhecidos por uma maior tolerância para com os adeptos de outras religiões. Minorias formadas por judeus, cristãos e zoroastras historicamente tiveram mais liberdade e até proteção entre os curdos.
A sua relação com os judeus precede em séculos a criação do islamismo e a conversão da maioria da população curda. O Talmude da Babilônia relata que expatriados de Judá receberam permissão para disseminar o judaísmo entre a população local. Já no século 1 d.c., quando os judeus combateram a ocupação romana, a rainha curda enviou tropas para ajudá-los na batalha.   

Mais de um milênio depois, as relações entre os curdos – já muçulmanos – e os judeus continuaram amigáveis.
No século XII, Salah-al-Din Yusuf ibn Ayyub – mais conhecido no Ocidente como Saladino – foi o responsável pela derrota do rei Ricardo Coração de Leão e pela expulsão dos cruzados de Jerusalém. Apesar disso ele contava com a desconfiança de muitos árabes-muçulmanos por ser curdo e pelo tratamento humano que dispensava as minorias sob seu controle – em contraste com os métodos utilizados pelos árabes. Foi após um pedido de Maimônides, famoso rabino medieval – e médico de sua corte – que Saladino intercedeu em favor dos judeus que eram perseguidos na região. Também é creditada a Saladino a descoberta do Muro das Lamentações, que tinha sido enterrado sob toneladas de lixo durante o domínio cristão bizantino. 

Ainda hoje partidos nacionalistas curdos mantêm contatos com o Estado de Israel e colaboram com seu serviço secreto, o Mossad, no Irã, na Turquia e na Síria.

Igreja de Ankawa, Erbil, Iraque

Acredita-se que o cristianismo chegou ao Iraque (antiga Mesopotâmia) aproximadamente no ano 33 d.C., através de São Tomé. A origem da Igreja iraquiana se deu entre os caldeus. Hoje a Igreja Católica Caldeia forma a maior comunidade cristã do Iraque. A Mesopotâmia era uma região vital para a sobrevivência dos cristãos do primeiro século, principalmente para aqueles que foram perseguidos pelo Império Romano, já que era dominada pelos inimigos de Roma, os persas. Do século IV ao XIV, o Iraque teve muitas igrejas e mosteiros cristãos em cidades como Bagdá, Basra, Kirkuk, Mosul e Erbil.

De acordo com Joseph Kassab, diretor executivo da Federação Caldeia da América do Norte, o número de cristãos no Iraque antes da guerra de 2003 era um milhão e duzentos mil. Agora são menos de 300 mil.

Ainda de acordo com Kassab, durante a ditadura de Saddam Hussein "havia ordem, mas não havia lei; agora não há nem lei nem ordem. De certa forma, então, eles [os cristãos] estavam melhor naquela época, porque havia um pouco de ordem, e em certo sentido havia algo que os protegia. Até que, na última década, Saddam tinha se tornado impiedoso, perseguia os cristãos de diversas formas. Ele mandou os seminaristas para a guerra contra a vontade; os obrigou a usar armas e matar gente. Nacionalizou as nossas instituições cristãs e proibiu batizar os cristãos com nomes bíblicos. Ele obrigou os cristãos a se filiar ao partido Ba’ath. Aconteciam todos esses abusos, mas, em termos de segurança, aos cristãos estavam melhor do que hoje."


Freqüentemente vemos minorias - geralmente cristãos orientais - vindo a público defender regimes autoritários como os de Saddam Hussein, Hosni Mubarak (Egito) e Bashar al-Assad (Síria). Muitos acham que eles são coagidos a defendê-los, mas isso não é verdade. Por mais brutais e opressores que estes sejam - como mostra Kassab ao falar de Saddam - os cristãos sabem que no momento que o caos se instalar e a maioria muçulmana não puder mais ser controlada, perseguições religiosas se tornam constantes e ainda mais ferozes.