sábado, 16 de novembro de 2013

Carta de avô de Assad aos ocupantes franceses (1936) explica os problemas do Oriente Médio, prevê o massacre de minorias não-muçulmanas e defende sionistas

Segundo estimativas da ONU, o número de mortos na guerra civil síria já ultrapassou a casa dos 100.000 



Muitos caíram no conto da "primavera árabe". No caso da Síria, a propaganda mostra "rebeldes" que lutam contra o ditador Bashar al-Assad em busca de liberdade e democracia. O problema é que os rebeldes nunca quiseram democracia nenhuma... 
Assad e a oposição têm muito em comum. Além dos métodos cruéis e da sede de poder, ambos desprezam a democracia e querem impor ditaduras. Só discordam em um ponto: o tipo de regime que deve controlar o país. Assad quer manter sua ditadura laica e que se apóia nas minorias enquanto os rebeldes querem uma ditadura islâmica baseada na crença da maioria sunita. 

A Síria é uma espécie de síntese ou emblema de todas as questões que têm se mostrado até agora insolúveis no Oriente Médio, a começar por sua própria composição interna. Os Assad pertencem à minoria alauíta — 10% da população —, um ramo do xiismo odiado, igualmente, pela maioria sunita e pelos xiitas. São hoje parte da elite dirigente do país. A chance de que essa e outras minorias — como a cristã, por exemplo — venham a ser esmagadas é grande. 

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A carta abaixo é fascinante. Além de trazer a tona a raiz dos problemas do Oriente Médio, ela se cumpre como uma profecia e explica a razão pela qual a elite alauíta está disposta a lutar até o último homem para se manter no poder. Ela sabe que a única alternativa seria o seu extermínio -- os alauítas entendem a mentalidade de seus irmão muçulmanos e a forma como estes lidam com as minorias sob seu controle. 






Caro Sr. Leon Blum, primeiro-ministro da França

A luz das negociações que estão sendo realizadas entre a França e a Síria, nós - os líderes alauítas na Síria - respeitosamente trazemos os seguintes pontos a sua atenção e a de seu partido (os socialistas):

1. A nação alauíta [sic], que manteve sua independência ao longo dos anos as custas de muito zelo e de muitas mortes, é uma nação que é diferente da nação muçulmana sunita em sua fé religiosa, em seus costumes e em sua história. Nunca antes a nação alauíta (que vive nas montanhas na costa ocidental da Síria) esteve sob o domínio dos [muçulmanos] que governam as cidades do interior da terra.

2. A nação alauíta se recusa a ser anexada a Síria muçulmana, porque a religião islâmica é considerada a religião oficial do país e a nação alauíta é considerada como herética pela religião islâmica. Portanto, pedimos que você considere o destino assustador e terrível que aguarda os alauítas caso eles sejam forçosamente anexados a Síria quando esta estiver livre da supervisão do mandato, quando estará em seu poder implementar as leis que derivam de sua religião. (De acordo com o Islã, os heréticos têm como escolha a conversão ao Islã ou a morte)

3. Conceder independência a Síria e cancelar o mandato seria um bom exemplo dos princípios socialistas na Síria, mas o significado da independência total será o controle, por algumas famílias muçulmanas, da nação alauíta na Cilícia, em Askadron [a Faixa de Alexandretta, que os franceses tiraram da Síria e anexaram à Turquia em 1939] e nas montanhas Ansariyya [as montanhas no oeste da Síria, a continuação das montanhas do Líbano]. Mesmo havendo um parlamento e um governo constitucional, não haverá garantias de liberdade pessoal. Este controle parlamentar será apenas uma fachada, sem qualquer valor eficaz, e a verdade é que ele vai ser controlado pelo fanatismo religioso que terá como alvo as minorias. Será que os líderes da França querem que os muçulmanos controlem a nação alauíta e que joguem-na no seio da miséria?

4. O espírito de fanatismo e estreiteza mental, cujas raízes são profundas no coração dos muçulmanos árabes para com todos aqueles que não são muçulmanos, é o espírito que alimenta continuamente a religião islâmica e, portanto, não há esperança de que a situação vá se alterar. Se o mandato for cancelado, o perigo de morte e destruição será uma ameaça sobre as minorias na Síria, mesmo que cancelamento [do mandato] decrete a liberdade de pensamento e a liberdade de religião. Por isso, ainda hoje, vemos como os moradores muçulmanos de Damasco forçam os judeus que vivem sob seus auspícios a assinar um documento em que são proibidos de enviar alimentos para os seus irmãos judeus que estão sofrendo com o desastre na Palestina [nos dias da grande revolta árabe].
A situação dos judeus na Palestina é a mais forte e explícita evidência da militância islâmica e do tratamento dispensado aqueles que não pertencem ao islã. Esses bons judeus contribuíram para os árabes com civilização e paz, e estabeleceram prosperidade na Palestina sem tomar nada a força e sem prejudicar a ninguém. Ainda assim, os muçulmanos declaram guerra santa contra eles e nunca hesitaram em massacrar suas mulheres e crianças, apesar da presença da Inglaterra na Palestina e da França na Síria.
Portanto, um destino sombrio aguarda os judeus e outras minorias no caso de o mandato britânico ser abolido e da Síria muçulmana e da Palestina muçulmana serem unidas. Este é o objetivo final dos árabes muçulmanos.

5. Agradecemos a sua generosidade de espírito ao defender o povo sírio e seu desejo de conseguir sua independência, mas a Síria, no momento atual, está longe da grande meta que você aspira para ela, porque ela ainda está presa no espírito do feudalismo religioso. Nós não achamos que o governo francês e o Partido Socialista Francês vão concordar com a independência dos sírios, já que a sua implementação causará a subjugação da nação alauíta, colocando a minoria alauíta em perigo de morte e destruição. Não é possível que você concordará com o pedido da Síria (nacionalista) para anexar a nação alauíta à Síria, porque seus elevados princípios - se eles suportam a idéia de liberdade - não vão aceitar a situação em que uma nação (os muçulmanos) tenta sufocar a liberdade de outro (os alauítas), forçando a sua anexação.

6. Você pode achar necessário garantir condições que assegurem os direitos dos alauítas e de outras minorias no texto do Tratado (o Tratado franco-sírio, que define as relações entre os estados), mas nós enfatizamos a você que contratos não têm qualquer valor na mentalidade islâmica da Síria. Vimos isso no passado, com o pacto que a Inglaterra assinou com o Iraque, que proibia [os muçulmanos] iraquianos de assassinarem assírios e yazidis. A nação alauíta, que nós representamos, clama ao governo da França e ao Partido Socialista Francês, e pede-lhes para garantir a sua liberdade e independência dentro de suas pequenas fronteiras [um Estado alauíta independente]. A nação alauíta coloca seu bem-estar nas mãos dos dirigentes socialistas franceses, e é certo que vamos encontrar um apoio forte e confiável para nossa nação, que é um amigo fiel, que tem prestado à França um excelente trabalho, e agora está sob o ameaça de morte e destruição.

[Assinado por]

Aziz Agha al-Hawash, Mahmud Agha Jadid, Mahmud Bek Jadid, Suleiman Assad [avô de Bashar], Suleiman al-Murshid, Mahmud Suleiman al-Ahmad.

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