sábado, 30 de novembro de 2013

François-René de Chateaubriand e os judeus oprimidos em Jerusalém (1806)

File:François-René de Chateaubriand by Anne-Louis Girodet de Roucy Trioson.jpg


François-René de Chateaubriand (04 de setembro de 1768 - 4 de julho 1848) foi um escritor, político, diplomata e historiador francês, e é considerado o fundador do romantismo na literatura francesa. Suas obras mais famosas são Génie du christianisme -- uma defesa da fé católica numa época em que grande parte da intelectualidade estava aderindo ao iluminismo e se virando contra a Igreja -- e Memórias de além-túmulo, uma autobiografía publicada postumamente, que se tornou seu livro mais conhecido. 

O visconde de Chateaubriand visitou a "Terre Sainte" (Terra Santa) em 1806, e essa viagem acabou virando um livro chamado Itinéraire de Paris à Jérusalem.
Seu relato de Jerusalém assemelha-se muito ao que Karl Marx viría a escrever algumas décadas mais tarde. Entre outras coisas, os dois desmentem a propaganda pró-árabe dos dias de hoje, que afirma  que havia uma convivência pacífica entre judeus e árabes antes do sionismo. 
Objet particulier de tous les mépris, il baisse la tête sans se plaindre; il souffre toutes les avanies sans demander justice; il se laisse accabler de coups ... Pénétrez dans la demeure de ce peuple, vous le trouverez dans une affreuse misère...
... rien ne peut l'empêcher de tourner ses regards vers Sion. Quand on voit les Juifs dispersés sur la terre, selon la parole de Dieu, on est surpris, sans doute; mais, pour être frappé d'un étonnement surnaturel, il faut les retrouver a Jérusalem; il faut voir ces légitimes maîtres de la Judée esclaves et étrangers dans leur propre pays: il faut les voir attendant, sous toutes les oppressions, un roi qui doit les délivrer. 
-- François-René de Chateaubriand, "Itinéraire de Paris à Jérusalem" página 315 - Bernardin-Béchet, edição de 1859


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Jerusalém e os muçulmanos

Monte do Templo (Domo da Rocha e mesquita al-Aqsa), década de 1950


Em tempos em que a verdade e fatos históricos cedem cada vez mais a clichês, essa foto vem e nos lembra que nem toda a propaganda do mundo pode reescrever a história sem antes destruí-la.

Hoje em dia é muito comum ouvir que "Jerusalém é uma cidade sagrada para as três religiões abraâmicas" e que a cidade é "a terceira mais sagrada" para os muçulmanos, mas a foto acima, com a mesquita de al-Aqsa totalmente abandonada, é um emblema da real importância que a cidade tem para os muçulmanos. E essa foto foi tirada durante a ocupação jordaniana da cidade, entre 1948 e 1967!

Jerusalém no islamismo

O que Jerusalém representa para o Islã e qual a sua importancia na história muçulmana? 

-- A cidade nunca serviu como capital de um estado soberano muçulmano (apesar de mais de mil anos de ocupação árabe)
-- Não é mencionada nenhuma vez nas orações e nem no Corão (uma comparação que torna este ponto ainda mais claro: Jerusalém aparece na Bíblia hebraica 669 vezes e Sião, que normalmente significa Jerusalém e, por vezes, a Terra de Israel, aparece outras 154 vezes. Ou seja: 823 vezes no total); 
-- Não está ligada a nenhum evento da vida de Maomé


Durante a ocupação muçulmana, os árabes fizeram da cidade de Ramla a capital da província palestina. 
Os muçulmanos costumam trazer a Sura 17:1, que fala da "mesquita mais distante", como prova de que Jerusalém está no Corão. Acontece que essa "interpretação" só foi criada no ano de 682, durante o califado omíada, quando Ibn al-Zubair se rebelou contra os governantes omíadas em Damasco e conquistou a cidade de Meca. Por causa disso, o califa, que precisava de um local alternativo para a peregrinação islâmica, resolveu que seus súditos deveriam ir para Jerusalém, que estava sob seu controle. Para justificar esta mudança, a passagem 17:1 do Corão foi reinterpretada para se referir a Jerusalém -- passagem esta que originalmente se referia a uma mesquita na cidade de Medina, na Arábia Saudita. 

De acordo com Ahmad Muhammad 'Arafa, colunista do semanário egípcio al-Qahira -- que é publicado pelo Ministério da Cultura Egípcio --, o que hoje chamamos de mesquita al-Aqsa é na verdade a "mesquita de Aelia" -- do nome "Aelia Capitolina", que foi como o imperador romano Adriano renomeou a cidade depois da revolta de Bar Kokhba. Como punição aos rebeldes judeus, ele renomeou Jerusalém como Aelia Capitolina, a terra de Israel como Síria Palestina e proibiu toda e qualquer prática judaica na região. 

nos dias de hoje: crianças muçulmanas jogam futebol no "terceiro lugar mais sagrado para o islamismo" 



segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Ibn Khaldun II: A Palestina é a Síria e os judeus são os israelitas

A placa da esquerda diz: "Nós resistimos a imigração judaica", já a placa à direita diz: "A Palestina é parte da Síria" 


Ainda em seu Muqqadimah, Ibn Khaldun escreve:

Os israelitas são um bom exemplo. Moisés os exortou a ir para que se tornassem governantes da Síria. Ele lhes informou que Deus tinha feito este o seu destino. Mas os israelitas eram muito fracos para isso. Eles disseram: há gigantes naquele país, e não iremos até que os gigantes se vão.
Isto é, até que Deus os tire de lá manifestando Seu poder, sem a aplicação de nosso 'sentimento de grupo', e este será um de teus milagres, ó Moisés. E quando Moisés os exortou, eles persistiram e com rebeldia disseram: "Vá você mesmo e seu Senhor e lutem.
Além disso, eles realmente não acreditaram no que Moisés lhes disse, ou seja, que a Síria seria deles e que os amalequitas que estavam em Jericó seriam derrotados por eles, em virtude do decreto divino que Deus tinha feita em favor dos israelitas.
Capítulo II, 18 - Meekness and docility to outsiders that may come to be found in a tribe are obstacles on the way toward royal authority.




Os israelitas são os que mais se apegam a esta ilusão. Eles originalmente tiveram uma das maiores 'casas' do mundo, em primeiro lugar, por causa do grande número de profetas e mensageiros nascidos entre os seus antepassados, que se estendem desde Abraão até Moisés, o fundador do seu grupo e lei religiosa, e também por causa de seu sentimento de grupo e por causa da autoridade real que Deus lhes havia prometido e concedido através deste sentimento de grupo. Em seguida, foram despojados de tudo isso e sofreram humilhação e indigência. Eles estavam destinados a viver como exilados na terra. Por milhares de anos, eles só conheceram escravidão e incredulidade. Ainda assim, a ilusão [de nobreza] não os deixou. Eles ainda podem ser encontrados dizendo: "Ele é um Cohen (descendente de Arão)", "Ele é um descendente de Josué "," Ele é um dos descendentes de Calebe "," Ele é da tribo de Judá." Isto, apesar do fato de que a sua 'sensação de grupo' desapareceu e que, por muitos e longos anos, foram expostos a humilhação. 
Capítulo II, 12 - Only those who share in the group feeling (of a group) can have a "house" and nobility in the basic sense and in reality, while others have it only in a metaphorical and figurative sense.


As duas afirmações de Ibn Khaldun vão de encontro ao que diz a Autoridade Nacional Palestina e todos os países árabes...

domingo, 24 de novembro de 2013

Muqaddimah: Ibn Khaldun e Israel como a terra dos judeus

    Estátua de Ibn Khaldun em Túnis, na Tunísia



Abū Zayd 'Abdu r-Raḥmān bin Muḥammad bin Khaldūn Al-Ḥaḍrami (1332 - 1406) foi um historiador árabe-muçulmano e é considerado um dos pais da historiografia.

Ele é mais conhecido graças ao livro al-Muqaddimah (Prolegomena em grego), que serve como introdução ao primeiro livro de seu Kitab al-'Ibar ("a História do Mundo").
Nesse livro, além de simplesmente mencionar e descrever acontecimentos, ele tenta oferecer explicaçoes racionais -- os "comos" e os "por quês" envolvidos nos acontecimentos históricos por ele descritos. Ele também costumava fazer uso de fatos históricos para tentar provar suas idéias. E é aqui que este estudioso muçulmano, que morreu há quase 600 anos, tem algumas coisas importantes a dizer sobre os judeus e Israel.


Por exemplo, ao criticar o historiador e geógrafo shiíta al-Mas'udi na introdução de seu livro -- uma crítica onde o próprio Ibn Khaldun escorrega na matemática -- ele comenta:

... o território dos persas era muito maior do que o dos israelitas. Este fato é atestado pela vitória de Nabucodonosor sobre eles. Ele engoliu o seu país e ganhou controle completo sobre ele. Nabucodonosor também destruiu Jerusalém, sua capital política e religiosa.
E ele continua:
Agora, é sabido que o território [dos israelitas] não correspondia a uma área maior do que as províncias da Jordânia e da Palestina na Síria e do que a região de Medina e Khaybar em Hijaz.
No primeiro trecho ele confirma um fato histórico inegável: Israel era o território dos judeus e Jerusalém sua capital política e religiosa.
Já no segundo, ele afirma o mesmo que todos os árabes -- ao menos até a criação de Israel: Jordânia e Palestina eram apenas províncias da Síria, e não países com uma população com pretensões nacionalistas ou em busca de soberania e auto-determinação -- com exceção dos judeus.


No capítulo 3 ("On dynasties, royal authority, the caliphate, government ranks, and
all that goes with these things")
(31. Remarks on the words "Pope" and "Patriarch" in the Christian religion and on the word "Kohen" used by the Jews):

É por isso que os israelitas, depois [dos tempos] de Moisés e Josué, permaneceram desinteressados quanto a uma autoridade real por cerca de 400 anos. Sua única preocupação era estabelecer sua religião.
... Os israelitas desapossaram os cananeus da terra que Deus havia lhes dado como seu patrimônio em Jerusalém e nos arredores da região, como havia sido explicado a eles por meio de Moisés.
... As nações dos filisteus, cananeus, armênios[!], edomitas, amonitas e moabitas lutaram contra eles. Durante esse [tempo], a liderança política era confiada aos anciãos que estavam entre eles. Os israelitas permaneceram nessa condição por cerca de 400 anos.

Ele [Saul] derrotou as nações estrangeiras e matou Golias, o governante dos filisteus. Depois de Saul, Davi tornou-se rei, e, em seguida, Salomão. Seu reino floresceu e se estendeu para as fronteiras de Hijaz e para além das fronteiras do Iêmen e da terra dos romanos (bizantinos). Depois de Salomão, as tribos se dividiram em duas dinastias... Uma das dinastias era a das dez tribos na região de Nablus, a capital da Samaria** e a outra era a dos filhos de Judá e Benjamin em Jerusalém. Então, Nabucodonosor, rei da Babilônia, os privou de sua autoridade real. Ele primeiro [lidou com] as dez tribos em Samaria, e, em seguida, com os filhos de Judá em Jerusalém. Sua [dos israelitas] autoridade real teve uma duração ininterrupta de mil anos.
** depois da ocupação jordaniana (1948-1967) a Samaria biblica foi renomeada como Cisjordânia pelos árabes.



De acordo com Ibn Khaldun, a soberania judaica na Terra de Israel se estendeu por 1400 anos. Em nenhum momento, neste  ou em outros livros, o historiador árabe menciona um povo palestino ou nação palestina. Já Muqaddasi, outro historiador árabe (nascido na Palestina no século X) afirmava que os judeus eram mais numerosos em Jerusalém e que não havia congregação muçulmana na cidade.

Ibn Khaldun, obviamente, se baseia na narrativa corânica. Por esse motivo há várias afirmações que vão de encontro a narrativa bíblica -- como no caso de Golias como governante dos filisteus e não apenas como um guerreiro. Ele tende a usar a Bíblia como fonte apenas quando o Corão não relata casos similares -- caso da unção de Saul como rei. O Corão simplesmente diz que ele foi ungido por um profeta, então ele se baseia na Bíblia para afirmar que o rei de Israel foi ungido pelo profeta Samuel.

Livro completo (em inglês)

Muqaddasi, o historiador árabe que refuta as alegações palestinas

Muhammad ibn Ahmad Shams al-Din al-Muqaddasi (945 — 991) foi um historiador e geógrafo árabe nascido em Jerusalém.
Seu livro mais conhecido é Ahsan at-Taqasim fi Ma'arifat al-Aqalim, "Melhor classificação para o conhecimento dos climas (ou regiões)", escrito no ano de 985O livro é resultado das anotações que o autor fez ao longo de suas viagens pelo Oriente Médio
Além de trazer observações sobre povos, costumes, comércio e arquitetura dos lugares visitados, foi o primeiro livro de geografia árabe a incluir mapas coloridos.





Sobre Jerusalém:
Homens instruídos são poucos e os cristãos numerosos; eles não têm boas maneiras. Em locais públicos e nas hospedarias os impostos são pesados ​​em tudo o que é vendido; há guardas em cada portão e ninguém está autorizado a vender as necessidades da vida, exceto nos locais designados. Nesta cidade os oprimidos não têm socorro; os submissos são molestados e os ricos invejados. Jurisconsultos permanecem vazios e os homens eruditos não têm renome; também as escolas estão sem vigilância, pois não há palestras. Em todos os lugares cristãos e judeus têm a supremacia [são mais numerosos], e a mesquita não tem qualquer congregação ou assembléia de homens eruditos.
(página 274)

No livro, sempre que o autor se refere a cidade de Jerusalém ele a chama de Baytu-l-Maqdis -- Bayt al-Maqdis (Casa do Sagrado) --, uma versão arabizada de Beyt haMiqdash, o nome hebraico do Templo de Salomão.
Apesar de os muçulmanos atuais negarem até mesmo existência do Templo -- em sua tentativa de reescrever a história e negar a presença judaica na região --, os do passado assumiam que, além de Jerusalém ser uma cidade judaica, sua santidade se devia, justamente, a esta presença.
Nos dias de hoje os muçulmanos chamam a cidade de al-Quds (o sagrado), uma versão reduzida do antigo nome.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O Cilindro de Ciro


O objeto da foto é considerado por alguns como o precursor da Declaração dos Direitos Humanos. Ele contêm uma declaração, em língua acádia, do rei persa Ciro II depois de sua conquista da Babilônia em 539 AC. A sua descoberta se deu no ano de 1879 e a ONU o traduziu, em 1971, a todos seus idiomas oficiais.


O cilindro é feito de argila e, atualmente, está dividido em vários fragmentos nos quais estão escritos uma declaração em grafia acadiana, em nome do rei Aquemênida da Pérsia, Ciro, o Grande. Ele data do século VI a.C. e foi descoberto nas ruínas da Babilônia, na Mesopotâmia (atual Iraque) em 1879. É possessão do Museu Britânico (British Museum), que patrocinou a expedição responsável pela descoberta do cilindro.

O artefato foi criado após a conquista da Babilônia em 539 a.C., quando o exército persa, sob Ciro, o Grande, invadiu e conquistou o império caldeu. O texto no cilindro elogia Ciro e lista sua genealogia como um rei de uma linhagem de reis.

O rei da Babilônia, Nabonidus, que foi derrotado e deposto por Ciro, é denunciado como um ímpio opressor do povo da Babilônia e suas origens humildes são implicitamente contrastadas com a herança de Ciro. O texto diz que o vitorioso Ciro foi recebido pelo povo da Babilônia como seu novo governante e entrou na cidade em paz. Ele apela ao deus Marduk, pedindo que ele proteja e ajude Ciro e seu filho, Cambises. Ele exalta os esforços de Ciro como um benfeitor dos cidadãos da Babilônia responsável por melhorar suas vidas, repatriar os povos deslocados e restaurar templos e santuários religiosos pela Mesopotâmia e em outros lugares na região. Ele conclui com uma descrição do trabalho de Ciro de reparar as muralhas da Babilônia, na qual ele teria encontrado uma inscrição similar de um rei antigo da Babilônia. O texto do cilindro foi relacionado por alguns estudiosos como evidência da política de Ciro de repatriação dos hebreus após o cativeiro na Babilônia - um ato que o livro de Esdras (1:2-4) atribui a ele.


Conquista da Babilônia
Com a morte de Nabucodonosor II, o rei que levara o povo hebreu para o cativeiro, o império babilônio entrou na sua fase de declínio. Três monarcas se sucederam em apenas sete anos, até que, em 555 a.C., Nabônides, nobre de origem arameia, assumiu o governo, no qual conseguiu manter-se até os acontecimentos do ano 539 a.C.
Contemporâneo de Ciro, este novo monarca uniu-se a ele num primeiro momento. Todavia, depois aliou-se ao Egito e à Lídia, na vã tentativa de frear a expansão do rei persa.
Vencido finalmente por Ciro, em Ópis, próximo ao rio Tigre, Nabônides fugiu, abrindo caminho para as tropas persas conquistarem, sem muito esforço, a Babilônia, em sua ausência governada por seu filho Baltazar.
Alguns dias depois, Ciro tomou conta da cidade, mas poupou seus habitantes, e inclusive prestou culto aos deuses locais. Sabe-se, pela Crônica babilônica, de sua preocupação em preservar os lugares sagrados e manter o bom andamento dos atos litúrgicos.

No ano seguinte de seu domínio sobre Babilônia, permitiu o retorno dos hebreus à Palestina e a reconstrução do templo de Jerusalém, decretando, ao mesmo tempo, que as populações das cidades nas quais eles moravam os ajudassem a restabelecer nele seu antigo culto.
"Assim fala Ciro, rei da Pérsia: o Senhor, Deus do Céu, deu-me todos os reinos da Terra, e encarregou-me de construir-lhe um templo em Jerusalém, que fica na terra de Judá. Quem é dentre vós pertencente ao seu povo, que seu Deus o acompanhe, suba a Jerusalém que fica na terra de Judá e construa o templo do Senhor, Deus de Israel, o Deus que reside em Jerusalém. Que todos os sobreviventes (de Judá) onde quer que residam, sejam providos pelos habitantes da localidade onde se encontrarem, de prata, ouro, cereais e gado, bem como de oferendas voluntárias para o templo do Deus que reside em Jerusalém" (Es 1, 2-4).

Ciro na Bíblia:
Cronicas 36:22-23   /   Isaías 44:28   /   Esdras 1:7-11

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Said Akl, o poeta nacional do Líbano



Said Akl (em árabe: سعيد عقل) é considerado um dos mais importantes poetas modernos libaneses. Ele também é um grande defensor da identidade, do nacionalismo e do idioma libanês. Seus escritos incluem poesia e prosa, tanto em dialeto libanês quanto em língua árabe clássica. 

Akl nasceu em uma família cristã maronita na cidade de Zahlé, no Líbano. Após a perda de seu pai aos 15 anos de idade, ele teve que abandonar a escola e, posteriormente, trabalhou como professor e depois como jornalista. Depois estudou teologia, literatura e história islâmica, tornando-se um professor universitário e lecionando em diversas universidades libanesas e institutos de política.

Sua admiração pela história e pela cultura do Líbano fez com que ele nutrisse uma forte inimizade para com a língua e a cultura árabe. Este sentimento foi eternizado em uma de suas frases mais famosas: 

eu cortaria a minha mão direita só para não ser um árabe

Em 1968, depois de criar um "alfabeto libanês" de origem latina, composto de 37 letras, ele afirmou que o árabe literário desapareceria do Líbano.

Para Akl, o Líbano dos fenícios foi o berço da cultura e o herdeiro da civilização oriental, bem antes da chegada dos árabes no país. 

No video abaixo Akl exalta a invasão isralense do Líbano, ataca os palestinos e afirma que todos os libaneses deveriam sair às ruas para ajudar o exército de Israel a "limpar" o Líbano dos árabes-palestinos.



[Tradução]

Não há um segundo passo, há apenas um [passo] para o herói Beguin (então primeiro-ministro de Israel): limpar o Líbano dos palestinos. Isso é o que o Líbano quer.
Se isso não acontecesse eu me sentiria tremendamente infeliz, assim como o resto da população libanesa.

Assim que o exército israelense entrasse no Líbano, todo o Líbano deveria ter se levantado e lutado ao seu lado. Se eu tivesse um batalhão militar, eu iria agora mesmo lutar ao lado do exército israelense.
Hoje no meu jornal, eu agradeci ao exército israelense num editorial chamado "Israel está aqui". Eu escrevi: "estou feliz por dois motivos: porque o exército está salvando a nós e ao mundo e [porque] está mostrando a cabeça da serpente ao mundo -- que se chama terrorismo" -- e eu vou falar sobre isso depois. 
Mas eu também estou triste porque não somos nós que estamos salvando o Líbano com os Israelenses, salvando dessa imundice palestina racista e sanguinária, que lidera o terrorismo no mundo.

Pergunta: E por que você não tomou parte na operação?

Eu acredito que existam alguns políticos corruptos no Líbano, e a maioría deles está no governo. Eles não permitíram que os libaneses tomassem partido.
O povo libanês travou uma boa guerra contra os palestinos, mas [Yasser] Arafat enganou e extorquiu os países produtores de petróleo e agora tem mais de 70 bilhoes de dólares. Nesses últimos dois dias ele comprou líderes na Europa e nos Estados Unidos para agir contra você, para dizer que este exército [de Israel] que está salvando o Líbano é um invasor -- mas qualquer um que diga isso deveria ser decapitado!
Em nome do Líbano, eu te digo que esse é o único exército da salvação. 

sábado, 16 de novembro de 2013

Carta de avô de Assad aos ocupantes franceses (1936) explica os problemas do Oriente Médio, prevê o massacre de minorias não-muçulmanas e defende sionistas

Segundo estimativas da ONU, o número de mortos na guerra civil síria já ultrapassou a casa dos 100.000 



Muitos caíram no conto da "primavera árabe". No caso da Síria, a propaganda mostra "rebeldes" que lutam contra o ditador Bashar al-Assad em busca de liberdade e democracia. O problema é que os rebeldes nunca quiseram democracia nenhuma... 
Assad e a oposição têm muito em comum. Além dos métodos cruéis e da sede de poder, ambos desprezam a democracia e querem impor ditaduras. Só discordam em um ponto: o tipo de regime que deve controlar o país. Assad quer manter sua ditadura laica e que se apóia nas minorias enquanto os rebeldes querem uma ditadura islâmica baseada na crença da maioria sunita. 

A Síria é uma espécie de síntese ou emblema de todas as questões que têm se mostrado até agora insolúveis no Oriente Médio, a começar por sua própria composição interna. Os Assad pertencem à minoria alauíta — 10% da população —, um ramo do xiismo odiado, igualmente, pela maioria sunita e pelos xiitas. São hoje parte da elite dirigente do país. A chance de que essa e outras minorias — como a cristã, por exemplo — venham a ser esmagadas é grande. 

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A carta abaixo é fascinante. Além de trazer a tona a raiz dos problemas do Oriente Médio, ela se cumpre como uma profecia e explica a razão pela qual a elite alauíta está disposta a lutar até o último homem para se manter no poder. Ela sabe que a única alternativa seria o seu extermínio -- os alauítas entendem a mentalidade de seus irmão muçulmanos e a forma como estes lidam com as minorias sob seu controle. 






Caro Sr. Leon Blum, primeiro-ministro da França

A luz das negociações que estão sendo realizadas entre a França e a Síria, nós - os líderes alauítas na Síria - respeitosamente trazemos os seguintes pontos a sua atenção e a de seu partido (os socialistas):

1. A nação alauíta [sic], que manteve sua independência ao longo dos anos as custas de muito zelo e de muitas mortes, é uma nação que é diferente da nação muçulmana sunita em sua fé religiosa, em seus costumes e em sua história. Nunca antes a nação alauíta (que vive nas montanhas na costa ocidental da Síria) esteve sob o domínio dos [muçulmanos] que governam as cidades do interior da terra.

2. A nação alauíta se recusa a ser anexada a Síria muçulmana, porque a religião islâmica é considerada a religião oficial do país e a nação alauíta é considerada como herética pela religião islâmica. Portanto, pedimos que você considere o destino assustador e terrível que aguarda os alauítas caso eles sejam forçosamente anexados a Síria quando esta estiver livre da supervisão do mandato, quando estará em seu poder implementar as leis que derivam de sua religião. (De acordo com o Islã, os heréticos têm como escolha a conversão ao Islã ou a morte)

3. Conceder independência a Síria e cancelar o mandato seria um bom exemplo dos princípios socialistas na Síria, mas o significado da independência total será o controle, por algumas famílias muçulmanas, da nação alauíta na Cilícia, em Askadron [a Faixa de Alexandretta, que os franceses tiraram da Síria e anexaram à Turquia em 1939] e nas montanhas Ansariyya [as montanhas no oeste da Síria, a continuação das montanhas do Líbano]. Mesmo havendo um parlamento e um governo constitucional, não haverá garantias de liberdade pessoal. Este controle parlamentar será apenas uma fachada, sem qualquer valor eficaz, e a verdade é que ele vai ser controlado pelo fanatismo religioso que terá como alvo as minorias. Será que os líderes da França querem que os muçulmanos controlem a nação alauíta e que joguem-na no seio da miséria?

4. O espírito de fanatismo e estreiteza mental, cujas raízes são profundas no coração dos muçulmanos árabes para com todos aqueles que não são muçulmanos, é o espírito que alimenta continuamente a religião islâmica e, portanto, não há esperança de que a situação vá se alterar. Se o mandato for cancelado, o perigo de morte e destruição será uma ameaça sobre as minorias na Síria, mesmo que cancelamento [do mandato] decrete a liberdade de pensamento e a liberdade de religião. Por isso, ainda hoje, vemos como os moradores muçulmanos de Damasco forçam os judeus que vivem sob seus auspícios a assinar um documento em que são proibidos de enviar alimentos para os seus irmãos judeus que estão sofrendo com o desastre na Palestina [nos dias da grande revolta árabe].
A situação dos judeus na Palestina é a mais forte e explícita evidência da militância islâmica e do tratamento dispensado aqueles que não pertencem ao islã. Esses bons judeus contribuíram para os árabes com civilização e paz, e estabeleceram prosperidade na Palestina sem tomar nada a força e sem prejudicar a ninguém. Ainda assim, os muçulmanos declaram guerra santa contra eles e nunca hesitaram em massacrar suas mulheres e crianças, apesar da presença da Inglaterra na Palestina e da França na Síria.
Portanto, um destino sombrio aguarda os judeus e outras minorias no caso de o mandato britânico ser abolido e da Síria muçulmana e da Palestina muçulmana serem unidas. Este é o objetivo final dos árabes muçulmanos.

5. Agradecemos a sua generosidade de espírito ao defender o povo sírio e seu desejo de conseguir sua independência, mas a Síria, no momento atual, está longe da grande meta que você aspira para ela, porque ela ainda está presa no espírito do feudalismo religioso. Nós não achamos que o governo francês e o Partido Socialista Francês vão concordar com a independência dos sírios, já que a sua implementação causará a subjugação da nação alauíta, colocando a minoria alauíta em perigo de morte e destruição. Não é possível que você concordará com o pedido da Síria (nacionalista) para anexar a nação alauíta à Síria, porque seus elevados princípios - se eles suportam a idéia de liberdade - não vão aceitar a situação em que uma nação (os muçulmanos) tenta sufocar a liberdade de outro (os alauítas), forçando a sua anexação.

6. Você pode achar necessário garantir condições que assegurem os direitos dos alauítas e de outras minorias no texto do Tratado (o Tratado franco-sírio, que define as relações entre os estados), mas nós enfatizamos a você que contratos não têm qualquer valor na mentalidade islâmica da Síria. Vimos isso no passado, com o pacto que a Inglaterra assinou com o Iraque, que proibia [os muçulmanos] iraquianos de assassinarem assírios e yazidis. A nação alauíta, que nós representamos, clama ao governo da França e ao Partido Socialista Francês, e pede-lhes para garantir a sua liberdade e independência dentro de suas pequenas fronteiras [um Estado alauíta independente]. A nação alauíta coloca seu bem-estar nas mãos dos dirigentes socialistas franceses, e é certo que vamos encontrar um apoio forte e confiável para nossa nação, que é um amigo fiel, que tem prestado à França um excelente trabalho, e agora está sob o ameaça de morte e destruição.

[Assinado por]

Aziz Agha al-Hawash, Mahmud Agha Jadid, Mahmud Bek Jadid, Suleiman Assad [avô de Bashar], Suleiman al-Murshid, Mahmud Suleiman al-Ahmad.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Mark Twain visita a Palestina (1867)

Ficheiro:Mark Twain by Abdullah Frères, 1867.jpg
    Mark Twain, 1867

Este livro é o registro de um passeio. Se fosse o registro de uma solene expedição científica expressaria a gravidade, aquela profundidade, e aquela impressionannte incompreensibilidade tão apropriadas a obras do tipo, mesmo assim tão atrativas. Apesar da limitação de ser apenas o registro de um piquenique, tem um propósito, que é sugerir ao leitor como ele veria a Europa e o Oriente se olhasse para eles com seus próprios olhos ao invés dos olhos dos que visitaram aqueles países antes dele. Não tenho pretensão em mostrar a alguém como ele deve procurar por objetos de interesse além mar — outros livros fazem isso, e mesmo se eu tivesse competência para tal, não há necessidade . — Mark Twain, The Innocents Abroad



Mark Twain era um escritor relativamente desconhecido em 1867, quando visitou a Palestina em companhia de 64 "peregrinos e pecadores " e escreveu estas palavras:

"A Palestina se assenta sobre trapos e cinzas*. Sobre ela paira o feitiço de uma maldição que secou seus campos e acabou com suas forças... A renomada Jerusalém, o nome mais majestoso na história, perdeu toda a sua antiga grandeza e se tornou uma aldeia pobre; as riquezas de Salomão já não estão mais lá para atrair a admiração de rainhas orientais, o maravilhoso Templo que era o orgulho e a glória de Israel se foi, e o crescente otomano é levantado acima do local onde, no dia mais memorável nos anais da história, eles criaram a Santa Cruz. - The Innocents Abroad"
* sinais de luto (Gênesis 37:34, Jó 16:15)

Uma “Vastidão Deplorável”:

"Nós atravessamos algumas milhas de um território abandonado cujo solo é bastante rico, mas que estava completamente entregue às ervas daninhas – uma vastidão deplorável e silenciosa [...] lagartos cinzentos, que se tornaram os herdeiros das ruínas, dos sepulcros e da desolação, entravam e saíam por entre as rochas ou paravam quietos para tomar sol. Onde a prosperidade reinou e sucumbiu; onde a glória resplandeceu e desvaneceu; onde a beleza habitou e foi embora; onde havia alegria e agora há tristeza; onde o esplendor da vida estava presente, onde silêncio e morte jaziam nos lugares altos, lá esse réptil faz a sua morada e zomba da vaidade humana."
Em outro capítulo, Twain escreveu o seguinte:
"Não há um único vilarejo em toda a sua extensão – nada num raio de trinta milhas em qualquer direção. Existem dois ou três agrupamentos de tendas de beduínos, mas não há sequer uma habitação permanente. Uma pessoa pode cavalgar dez milhas pelas redondezas sem conseguir ver dez seres humanos.
Uma das profecias se aplica a essa região: 

Assolarei a terra, e se espantarão disso os vossos inimigos que nela morarem. Espalhar-vos-ei por entre as nações e desembainharei a espada atrás de vós; a vossa terra será assolada, e as vossas cidades serão desertas (Lv 26.32-33).

Nenhum ser humano que esteja aqui nas proximidades da deserta Ain Mellahah pode dizer que a profecia não se cumpriu."

Citações retiradas do livro "Innocents Abroad", Electronic Text Center, Biblioteca da Universidade de Virginia, cap. 47, p. 489.
e cap. 46, p. 485. 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Quem eram os palestinos?




Edição de 16 de maio de 1948 do Palestine Post, jornal de língua inglesa publicado na Palestina, anunciando a declaração de independência de Israel


Escritores gregos e romanos utilizavam os termos "Palestina" e "palestinos" para se referir a terra de Israel e a seus habitantes judeus. Assim como Filo e Josefo -- escritores judeus que viveram no século I.
No início do primeiro século da EC, o poeta romano Ovídio descreveu a observância do sabá judaico com as palavras "a festa do sétimo dia que os Sírios da Palestina observam". Outros autores latinos, como o poeta Estácio e o historiador Dio Crisóstomo, também falaram dos judeus como palestinos e da pátria judaica como Palestina. Da mesma forma, na literatura judaica talmúdica (século III EC), Palestina é usada como o nome da província romana que une as províncias da Fenícia e da Arábia (isto é, a Terra de Israel).

No século IV EC, a Terra de Israel estava dividida em três províncias chamadas de primeira, segunda e terceira Palestina. Mas após a conquista muçulmana, em 638 EC, o termo caiu em desuso. O nome não aparece no Corão, que se refere ao local simplesmente como "Terra Santa" (al-Arad Muqaddas). Da mesma forma, Jerusalém não é mencionada no Corão e diversos historiadores árabes se referiram a cidade como Iliya (adaptado do latim 'Aelia') ou  Bayt Maqdis (adaptado do hebraico Beyt haMiqdash - Santa Casa), e, finalmente, como al-Quds -- como a cidade é conhecida hoje.

Com os cruzados a Palestina ganhou vida novamente. No entanto, após a queda de seu reino o nome "Palestina" deixou de ser usado oficialmente, mas foi preservado por cartógrafos cristãos em mapas desenhados em suas respectivas terras. Desde o início da ocupção islâmica da Terra de Israel até o final do século 19, os moradores da região entre o rio Jordão eo Mediterrâneo se identificavam não por seus locais de nascimento, mas por suas religiões.

O termo 'Palestina' só começou a ser usado nos tempos modernos durante o mandato britânico (1917-1948). Para os britânicos Israel tinha deixado de existir nos tempos antigos e 'Palestina' era o termo usado na literatura clássica para a designar a pátria judaica. Isso pode ser visto, por exemplo, na Enciclopédia Judaica (publicada em Londres em 1905), que afirma que a Palestina é "a parte da Síria que antigamente era a posse dos israelitas". Dada a tendência britânica para a exatidão histórica, o termo era aplicado apenas aos residentes judeus da região. É por esse motivo que a referência padrão britânica para a definição de termos e expressões de seu idioma, o Dicionário Inglês Oxford, definia o termo "Palestinos" como:

1. "os judeus que retornaram a Israel de Moscou";
2. "os voluntários judeus que serviram o exército britânico para lutar contra a Alemanha".

É por este motivo que os soldados judeus que serviram com os aliados durante a Segunda Guerra Mundial tinham a palavra "Palestina" inscrita em seus distintivos de ombro.

Além disso, sob o Mandato Britânico, o jornal Jerusalem Post (propriedade judaica) era conhecido como The Palestine Post, a Orquestra Filarmônica de Israel era conhecida como a Orquestra Filarmônica da Palestina e selos postais emitidos na Palestina vinham com a inscrição "Palestina - EI", sendo o EI uma abreviatura cujo significado é "erets Isra'el" (hebraico para a Terra de Israel).


"Pallywood"


No dia 7/2/04, enquanto fotojornalistas capturavam a imagem de uma senhora arabe com expressão de sofrimento, Enric Marti, fotógrafo da Associated Press, registrou o momento a partir de um ângulo bem mais original e honesto.


Pode ser que essa mulher tenha começado a chorar antes de encontrar os fotógrafos, mas sua posição – sozinha, ao lado de pichações em inglês – indica que a cena foi armada e que queria passar o máximo de impacto possível ao público ocidental. Parece que os fotógrafos não querem apenas ‘captar a imagem’, mas criá-la – seja ativamente (pedindo que a senhora pose), seja passivamente (permitindo ser por ela manipulados). Ambas as situações levam notícias erradas ao consumidor e, portanto, violam a ética jornalística.
Mas de acordo com Tim Rutten, do Los Angeles Times, a polêmica sobre a divulgação de fotos digitalmente manipuladas e erroneamente legendadas pela [agência de notícias] Reuters não chegou perto da dimensão que deveria ter tido na mídia.